Sobre as dores e delícias de viver nos EUA

Páscoa é tempo de reflexão, né? Pois senta que lá vem história, haha!  

A vida nos Estados Unidos desperta curiosidade e muita gente idealiza a situação, acreditando que tudo é fácil e barato. Então, resolvi abrir meu coração e contar um pouco mais da minha experiência. Pra quem ainda não sabe, me mudei pra cá no início de 2013 porque o meu marido (que, na época, era meu namorado) recebeu uma proposta de trabalho aqui. A empresa americana patrocinou nosso visto e o processo levou quase um ano (não foi da noite pro dia). Na verdade, eu só acreditei mesmo que iria mudar de país quando obtive o visto no consulado em São Paulo. Até então, tudo parecia surreal pra mim. 

Bom, eu imaginava que seria difícil a minha adaptação – e foi. No Brasil, eu me dividia entre dois empregos de segunda a sexta e, nos finais de semana, atendia clientes como consultora de Imagem & Estilo. Então, estava trocando a independência financeira por “férias permanentes”, já que não teria autorização para trabalhar e ganhar meu próprio dinheiro. Hoje lido um pouco melhor com isso, mas sabem o que me revolta? Que as pessoas acham que tirei a sorte grande com esta mudança, mas ninguém vê que abdiquei dos meus sonhos profissionais para apoiar meu marido nesta nova jornada desafiadora. Se eu me arrependo? Não. Foi a escolha que eu fiz. Porém, me incomoda quando me olham como se eu não tivesse valor algum. Sem contar nos julgamentos por ser dona de casa – como se isso significasse que eu não faço nada o dia todo. Nossa, me dá nos nervos, porque é uma tarefa super trabalhosa (afinal, não tenho faxineira) e que ninguém reconhece.

Outro problema: a distância de 10.800km da família e dos amigos. Eu, que sempre estava rodeada de gente, tive que encarar uma nova realidade – a de ficar sozinha. Por mais que existam Facetime e Skype, nada substitui um abraço. Dói pensar, por exemplo, que vou acompanhar de longe o crescimento da minha priminha Sophia (de apenas quatro meses) e que meus futuros filhos não terão um contato próximo com a minha mãe. 

Fico incomodada também quando as pessoas dão palpite no que devo fazer para preencher meus dias – novamente reforçando a ideia de que sou desocupada. O que eu recebo de “conselhos” não é brincadeira, mas ninguém está aqui pra ver como é a realidade local. Eu moro numa cidade de 30 mil habitantes, onde o forte é a agricultura – setor que tem tudo a ver comigo, #sqn. O povo também tem zero preocupação com a imagem pessoal, então consultoria nem rola. Quanto ao estudos, realmente posso fazer cursos se tiver grana para bancá-los (não há aulas presenciais gratuitas como ocorre no Brasil). E não, não ficamos ricos só porque moramos nos EUA. 

Aliás, o custo de vida no meu Estado (Washington) é alto – e a saúde em especial é muito cara. Eu sempre falo que aqui não é o país para se ficar doente. Não existe serviço público. Quando tive cólica de rim, em 2014, fui para a Emergência e quase enfartei ao receber a conta do hospital: 1.200 dólares pelas 3 horas em que eu estive lá (isso porque a gente tem seguro). “Apenas” tomei morfina e fiz um ultrassom, mas a partir do momento que entrou no hospital já está pagando. Aprendi a lição: Emergência é para quando se está morrendo. Eu tinha que ter ido pra uma clínica comum, de pronto-atendimento. Só descobri depois.

Como não poderia deixar de ser, a língua é uma barreira. Meu inglês nunca será perfeito como o de um americano; terei sempre meu sotaque, além de um nome “diferente”. Pequenas situações do dia-a-dia, como ir a uma consulta médica, podem se tornar um bicho de sete cabeças (afinal, quem sabe o vocabulário completo de todas as doenças/sintomas?) Também odeio falar ao telefone; prefiro mil vezes mandar um e-mail, já que minha escrita é bem melhor.

Por que então não volto pro Brasil? Porque, racionalmente, o meu lugar é aqui. Compramos nossa casa e sei que este país tem melhores oportunidades para nos oferecer. A qualidade de vida nem se compara – temos tranquilidade e segurança. Posso andar na rua com o celular na mão ou deixar o carro com os vidros abertos no supermercado que nada acontecerá. É uma sensação libertadora! Além disso, como boa admiradora da natureza que sou, fico deslumbrada com a paisagem nesta região. É de tirar o fôlego.

No final, por mais difícil que seja administrar a saudade e todas as outras dificuldades, a vivência internacional faz valer a pena. Só queria um pouco mais de compreensão e menos julgamento das pessoas... Morar na Terra do Tio Sam não é um mar de rosas e paga-se um preço alto por isso – podem ter certeza!

Comentários

  1. Foi bom ler o seu desabafo! Sinto-me mais ou menos assim, mesmo morando no Brasil! Trabalhava em multinacional e decidi reduzir a minha carga horária para, eu mesma, criar o meu filho. Só que o julgamento que fazem, achando que passar mais tempo em casa é o mesmo que não fazer nada, é muito injusto! Filho é para sempre, não tenho "folga" de ser mãe é a casa dá muito trabalho, já que ela não faz nada sozinha, né? Kkk
    Enfim, me identifiquei com você!!!
    Bjss

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    1. Que bom que gostou, Verônica! Aqui faxineira é artigo de luxo, então eu mesma tenho que dar conta de todo o trabalho doméstico - e a gente nunca tem feriado pra este tipo de serviço, né? Se eu não fizer, ninguém vai fazer... e sei que será ainda pior quando tiver filhos, rsrs.
      Obrigada pela visita e comentário! =)

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  2. Aí Ca super te entendo, tenho primos que moram em Boston e eles dizem as msm coisas q vc, só q eles já tem filhos q são americanos inclusive, e tbm não voltam pela qld de vida e segurança principalmente por conta dos babys... Bjs

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    1. Pois é, Thata: eu sei que aqui é melhor pra nós em muitos sentidos, mas é inevitável sentir saudades das pessoas que deixei no Brasil! E eu quis escrever o post pra mostrar que não é esta maravilha que todo mundo fantasia: a gente paga um preço pelas escolhas que faz! Queria desmistificar um pouco a vida nos EUA, inclusive em termos de dinheiro - porque as pessoas acham que somos ricos só por morar aqui...
      Agradeço sua visita e comentáro, viu?! Um beijo e boa semana!

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  3. Oi Cá! Amei saber mais sobre a sua experiência em morar fora. Foi legal você desmistificar essa idéia de "facilidades" que as pessoas têm, mas fico feliz que também tenham vários lados bons para você no final de tudo isso. Um grande beijo minha flor!

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    1. Oi, Aninha! Fico contente que gostou! Pois é... as pessoas fantasiam que aqui só tem coisas boas, mas não é verdade. Eu quis mostrar este outro lado das dificuldades que só quem vive no exterior sabe! E apesar dos perrengues vale a pena! Um beijo e obrigada pelo comentário, queridona!

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  4. Camila,
    Desde que soube que tu moras nos EUA ("tipo" desde sempre) eu imaginava essas situações. Até porque pra mim parece meio óbvio os perrengues que tu passas - pelos próprios posts e entrelinhas. Nada que "te mate" é verdade, mas que às vezes chateia/incomoda e às vezes fortalece, né?!?! O desabafo é necessário e faz bem. Força na peruca!!!
    Beijoooo :-)

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    1. Oi, Monica! Eu sempre conto um ou outro episódio nos posts mesmo porque o blog é reflexo da minha vida aqui. Tem horas que eu preciso colocar pra fora (como foi o caso deste post) e aqui é o meu espaço pra desabafar, rs. Só espero que as leitoras não cansem de mim! Hehe
      Um beijo e obrigada pelo comentário!!!

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  5. Camila, estou aqui há 3 meses mas me identifiquei completamente. Também detesto quando ficam me dando dicas do que fazer para "preencher" o meu tempo e detesto falar no telefone...rsrs
    Um abraço!

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    1. Pois é, Cristiane: bem-vinda ao clube! Tem hora que os palpites alheios enchem o saco, rsrs. Afinal, a gente já é crescidinha pra saber o que fazer!
      Obrigada pela visita e comentário!

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  6. Lindo texto Cá!!! Cada um sabe a delícia de ser quem é, ninguém pode se colocar no lugar de ninguém. Viva sua vida e não se preocupe com os outros. Minha irma morou no Japão e teve graves problemas de saúde, pagava até intérprete p ir ao médico. Mas ainda assim, são países melhores de se viver e formar família. Te entendo perfeitamente. Deus os abençoe.

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    1. Muito obrigada pelo apoio, Cintia! Não vou cuspir pra cima e dizer que aqui é ruim porque não é! Mas nunca vou sentir pelos EUA o amor que sinto pelo Brasil - e também não consigo me desligar completamente porque toda a família está em terras brasileiras. Só queria que as pessoas que adoram palpitar na minha vida levassem tudo o que escrevi em consideração da próxima vez que viessem me dar um "conselho", rsrs...
      Obrigada pela visita e comentário!

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  7. É realmente um saco ficar ouvindo palpites! Eu odeio! Muito bacana seu post! Vc não pensa em visitar o Brasil de vez em qdo? Já veio?

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    1. Um saco mesmo, Da! Fico contente que gostou do post e obrigada pela visita e comentário também! Sobre sua pergunta, eu costumo ir ao Brasil todo ano e ficar pelo menos um mês. Mas por enquanto não tenho previsão de ir por questões de documentação. De qualquer maneira, acredito que tudo se resolverá em breve e poderei matar as saudades da família! <3

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  8. Que história interessante. Você foi corajosa, pois não deve ser fácil mesmo.

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    1. Não é, Ana Emilia! A gente tem que abrir mão de muita coisa para tentar uma vida melhor. Mas Deus sabe o que faz - e agradeço a oportunidade que Ele nos ofereceu!
      Obrigada pela visita e comentário!

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  9. Estou encantada com seus posts, as dicas de roupas, me identifico com seu jeito de vestir, agora esse desabafo foi mega power incrível!!! Ninguém sabe o que o outro passa, e ainda quer dar palpites, isso acontece aqui no Brasil tbém, não podem ver agente sentada vendo TV que logo alguém solicito vem dar ideias do que voce pode fazer de mais interessante do que ver TV, poxa, mas as vezes queremos só ver TV....Não esquenta e bola pra frente!!! Continue postando fotos, vc é linda!!!

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    1. Olá! Obrigada pelo comentário carinhoso! Pois é... depois deste post minha vida deu uma reviravolta e hoje estou trabalhando, ganhando meu próprio dinheiro. Agora ninguém pode dizer que sou desocupada - até porque não tenho mais tempo pra nada, rsrs! Mas pode deixar que sempre que possível atualizarei o blog! =)

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